O mercado de seguros tem crescido em todo o País, principalmente porque “com a pandemia e, infelizmente mais de 600 mil mortes por covid no Brasil, as pessoas perceberam o risco mais próximo”. É o que afirma Antonio Edmir Ribeiro, diretor territorial da Mapfre, na região Nordeste. Segundo ele, a seguradora, em especial, apresentou um crescimento de 10% nas vendas, no cenário nacional, e um destaque para o Rio Grande do Norte onde expandiu 11%. “É reflexo sim dessa busca por seguro pela percepção de risco”, afirma. Mas, além disso, afirma o executivo, a percepção de uso está mudando, numa velocidade muito grande, inclusive entre os jovens que “perceberam que o seguro de vida vai além de uma indenização, vai além de deixar uma herança”. Confira entrevista.
Qual o cenário atual do segmento de seguros de vida?
De uma maneira geral, a indústria de seguros sempre se colocou com um cenário de crescimento acima do PIB. Ano após ano o PIB da indústria de seguros se coloca maior que o PIB geral do País, e o próprio resultado alcançado no ano passado mostra bem esse cenário. O PIB geral do País encolheu 4% e o mercado de seguros no ano passado alcançou 1,3% de crescimento. Então, mesmo no pior momento da economia, os seguros os mostraram mais resilientes. Antes de 2020, nos últimos dez anos, essa indústria se mostrou com um crescimento médio acima de dois dígitos. Em vários anos seguidos o crescimento ficou entre 15, 16 por cento. Em 2019, que é um ano anterior a pandemia, foi um crescimento de 13 por cento e, este ano, já voltando as atividades econômicas, mais uma vez o mercado de seguros reage bem, fechando o primeiro semestre om 13% de crescimento. Isso mostra que, de maneira geral, a sociedade está percebendo que fazer seguros é um hábito que tem de fazer parte do planejamento familiar, do seu planejamento empresarial.
E quais os destaques nesse segmento?
Entre os destaques de seguros, entram os seguros de vida. Então é um assunto que está muito direcionado à pandemia. As pessoas perceberam o risco mais próximo, infelizmente ai, com mais de 600 mil mortes por covid no Brasil e isso mudou o m,ercado. Trouxe um alerta para que as pessoas buscassem mais proteção no seguro de vida. Então, a Mafre, em especial, nesse cenário, apresentou um crescimento de 10% nas vendas, no cenário nacional, e um destaque para o Rio Grande do Norte onde nós ficamos na média com 11%, um pouco maior do que a média nacional, então, é reflexo sim dessa busca por seguro pela percepção de risco.
O senhor citou o aumento da percepção de risco. Mas que outros fatores impulsionaram as vendas?
Na verdade o seguro de vida, se a gente for fazer um breve histórico tem sofrido transformações muito importantes. Ele sai daquele conceito do deixar uma herança e muito ligado ao fator morte. Só que isso vem evoluindo ano após ano, e ai há uma evolução das seguradoras e também uma evolução das pessoas com relação ao entendimento. A gente nota que os jovens têm procurado muito fazer o seguro de vida porque hoje ele oferece coberturas e benefícios que são usados em vida. Então, seguro de vida passou a ser um produto com uma abrangência muito maior que o próprio nome. Isso é o que tem gerado essa disposição, esse interesse das pessoas por buscarem o seguro de vida.
Que coberturas são mais procuradas?
As coberturas que têm sido bastante procuradas são as coberturas em vida, então são coberturas que abrangem diária por internação hospitalar, você vai receber uma diária de internação hospitalar por acidente, então ali é o acaso, esse é o princípio básico do seguro, que gosto de lembrar. O seguro existe por conta do acaso, por conta do imponderável, por conta do imprevisto. Têm três características básicas do seguro, que ele é um fator futuro, incerto e aleatório. E talvez essa percepção de risco que citei anteriormente esteja mais presente na pessoa, agora, porque ela está mais exposta, está voltando a trabalhar, sai, dirige, pega transporte público, e até, eventualmente, vai a uma área de lazer. Então, todos esses fatores levaram a uma consciência maior e essas coberturas que nós chamamos em vida, elas também dão uma tranquilidade. Eu cito nosso programa de saúde. A Mapfre colocou no produto de vida individual assistências que dão ao segurado possibilidade da telemedicina, conceito que foi acelerado pela pandemia. De uma hora para outra, nós fomos todos para casa e precisávamos fazer consulta e aí veio a solução da telemedicina. Ao perceber que é algo que veio para ficar, a Mapfre incorpora em seus produtos esse benefício. Então, as pessoas adquirem o seguro de vida e junto esse programa, que permite a consulta por telemedicina. Outro benefício diretamente ligado, que a gente usa no dia-a-dia, o desconto em farmácias. Farmácias aplicam hoje, no mínimo, 20% de desconto nos medicamentos e, às vezes, a depender da quantidade de remédios que você usa no mês o benefício é tamanho que pode cobrir o custo do seguro. Então, essa percepção de uso está mudando, numa velocidade grande, e está mudando numa velocidade grande entre os jovens, principalmente, que perceberam que o seguro de vida vai além de uma indenização, vai além de deixar uma herança.
Havia uma percepção de que “seguro de vida é coisa de rico". Essa mentalidade está se transformando? Outras classes sociais estão buscando o seguro?
Muito bom essa percepção mudar, e está mudando como falei. Os seguros coletivos, aqueles que são contratados por empresas eles têm esse papel social, eles alcançam todas as classes, e permitem para quem ainda não tomou a decisão de contratar de maneira individual que, através da empresa, ele possa fazer esse contrato. Nós temos um produto que chama Pró-Trabalho que atende muitas convenções coletivas de trabalho. Algumas categorias já colocam na convenção coletiva a obrigatoriedade de ter o seguro de vida, pensando em dar acesso aos trabalhadores a esse benefício. E esse produto se adapta, vai atender ao que está escrito na convenção coletiva da categoria, como enfermeiros, quem opera em postos de combustíveis, algumas que operam em condomínios, colocam essas cláusulas e vem determinado o valor de indenização para aquele trabalhador. Através dessas soluções coletivas, além das individuais, hoje você pode fazer um seguro de vida como empreendedor, a partir de duas vidas. Um salão de beleza, uma lojinha de artesanato, uma lanchonete pode reunir seus funcionários e já a partir de duas pessoas contratarem um seguro de vida coletivo com custo extremamente acessível. Acho que esse conceito de seguro de vida para uma camada que tenha uma renda maior está deixando de existir. Seguro de vida é para todos.
Se você tivesse que indicar cinco seguros essenciais, quais seriam? E Por que?
O primeiro seguro essencial é o de vida, porque é da vida que nasce todas as demais atividades que nós exercemos. E o seguro de vida é um ato de responsabilidade com a sua família. Então, a gente fala muito do seguro de vida como herança, mas o seguro de vida tem coberturas amplas. Em caso de uma invalidez permanente, a pessoa sofreu um acidente e ficou inválida, o seguro de vida atua nesses casos. Aquela indenização serve para que você possa contratar um enfermeiro por tempo dedicado, para que você possa fazer uma reforma se for preciso no seu imóvel para adaptar à sua nova realidade. Então, o seguro vida é essencial, e depois vêm os demais, os seguros de patrimônios, da sua casa, do seu lar, onde é seu repouso; do seu carro, onde você se locomove e tem um risco alto; e tem um seguro que eu cito também embora não seja propriamente seguro mas está dentro do arcabouço que é a previdência complementar, que nada mais é do que um seguro, na essência, para seu futuro. Embora o produto não seja classificado como seguro, ele é um produto independente, mas se a gente parar para pensar uma previdência complementar é uma garantia que estou dando pra mim no futuro, de que terei uma renda complementar. De alguma forma, você protege sua vida atual com um seguro de vida, e protege sua vida futura com a previdência. E protege seu patrimônio, ai eu falei do de automóvel, de residência, mas é essencial também o seguro saúde. Mas nossa indústria vai muito além, temos seguro agrícola, seguro aeronáutico, seguro da indústria, mas em termos familiar com esses cinco seguros que citei uma família estará protegida.
Em termos familiar, quais os mais procurados hoje?
O Brasileiro ama o automóvel e, historicamente, foi o seguro mais procurado, mas tem um dado que é maravilhoso. A partir de 2016, o seguro de vida ultrapassou em arrecadação o de automóvel. Então historicamente, o brasileiro faz o seguro de carro, ele não compra sem seguro, mas hoje os dados já mostram que as pessoas consomem mais seguro de vida do que automóvel.
O que impulsionou a mudança?
Primeiro, a consciência. Mas os números mostram que ainda temos um caminho a trilhar. Números mostram que apenas 15% da população brasileira tem seguro de vida. Quando você compara com Estados Unidos, lá esse número passa para 70%; quando você compara com o Japão esse número vai para 90%. Hoje, a arrecadação anual da indústria de seguros é algo em torno de 6% do PIB. As reservas, que são os valores que as seguradoras recebem, em títulos públicos, já passam de um trilhão de reais, então você vê que é algo relevante. As pessoas fazem parte de todo esse sistema e através do aumento da oferta elas começaram a também reagir positivamente. Eu diria que impulsionou mais essa consciência porque nós passamos a oferecer mais, porque desenvolvemos produtos que são mais acessíveis em custo e com benefícios que são utilizados em vida. Acho que isso atraiu a atenção do consumidor.
Há mudança no perfil dos locais onde há mais demanda?
Ainda há, já melhorou muito, mas nós temos uma concentração, porque a população é maior também, no sul e sudeste, puxado por São Paulo, que na indústria geral de seguros representa 40% da arrecadação. É algo extremamente forte. Na parte do Sul, existe uma cultura maior de seguro, principalmente na parte agrícola, por conta de todos os fatores climáticos. No seguro de vida coletivo, como você tem uma quantidade maior de empresas em São Paulo, a contratação também é maior lá. Mas o perfil de venda individual está mais espalhado no Brasil, por todas as regiões, porque as seguradoras estão presentes em todas as capitais, e nas principais cidades. A Mapfre tem 75 filiais no País, com o conceito de estar mais próximo da população e levar a cultura de seguro, apoiar os corretores de seguro nessa propagação. Mas hoje, estados como o Rio Grande do Norte geram um destaque importante também, nessa procura maior por seguro de vida. Vou dar um exemplo,no Rio Grande do Norte, este ano, a procura por seguro de empresas, de patrimônio, aumentou 33% na nossa carteira. É um comportamento muito bom.
Temos um panorama de outros segmentos que cresceram no RN?
Um grande destaque positivo para nós é o crescimento da procura por seguros que até então não eram vistos, Por exemplo, o seguro residencial, que você compra porque tem um patrimônio, ou é seu ou é alugado e você não quer causar nenhum dano. É um seguro extremamente acessível, com preço 120, 180 reais por ano e no Rio Grande do Norte nós crescemos 20% a venda. As pessoas hoje compram seguro residencial não só pela indenização em caso de incêndio, mas porque elas querem ter a limpeza do ar-condicionado que dá direito, a um bombeiro hidráulico, um encanador em caso de vazamento, protege sua TV, sua geladeira em caso de um dano elétrico causado com a queda de tensão. Então, os benefícios agregados ao seguro estão mudando o comportamento da sociedade. As pessoas entendem: seguro é coisa que uso todos os dias, não é algo que vou ou não usar.
E no setor de automóveis?
Houve um crescimento maravilhoso. A Mapfre cresceu no Rio Grande do Norte 37% na carteira de automóveis, é uma expansão fantástica, uma resposta aos investimentos que a Mapfre tem feito na rede de atendimento, oficinas, guinchos, de prestadores. Também acompanha um fenômeno que é a volta do consumidor ao carro zero, como esse mercado está reagindo aumenta procura por seguro de veículos.
As seguradores mudaram sua estratégia de negócios no de curso da pandemia?
Mudou, e essa mudança veio para ficar. Na pandemia, a quantidade de óbitos foi muito grande e quando olhamos o valor de indenizações pagas gira em torno de 4 bilhões, no Brasil todo. Os corretores de seguros ficaram também assessorando as famílias, mostrando as famílias o quão é importante ter seguro. Você tem dois grandes fatores, o homeoffice, quando você foi para casa começou a dar mais atenção a detalhes que você não dava antes, então de alguma forma houve uma reflexão sobre sua vida, seu atrimônio, sobre riscos, e você começa a aceitar melhor a oferta. E na mesma direção os corretores começaram a ofertar mais esse tipo de produto.
Quais os desafios?
O grande desafio é tornar mais acessível esses produtos, é o que a gente chama de revolução digital, uma realidade já em muitos segmentos da economia, e hoje o celular é o centro de soluções, tudo está nele, e nosso desafio é ficar presente na mão das pessoas. Temos feito investimentos nessa área, estimulado inclusive lançando desafios para que empresas posam apresentar a Mapfre soluções digitais, que é uma área que a gente acredita muito. Então, o próximo desafio é aumentar a oferta por meios digitais, é tornar mais acessível e mais simples a contratação de um seguro. E tenho certeza de que vamos alcançar esse grau de acessibilidade, tornar seguro um bem para todos, de forma simples e direta.
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